História da Capoeira
O que é a Capoeira? É dança? É jogo? É luta?. Como mestre Carapau nos define: "Capoeira é uma arte, atrás dela esconde-se a violência de uma luta genuinamente brasileira". E com esse espírito de Arte e muita alegria que convidamos vocês à embarcarem nesse passeio de ritmos, mitos e lendas acerca da capoeira .
Do Navio Negreiro ao ABC da Capoeira - Parte I
A Capoeira já foi motivo de grande controvérsia entre os estudiosos de sua história, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento – supostamente no século XVII, quando ocorreram os primeiros movimentos escravos de fuga e rebeldia – e o século XIX, quando aparecem os primeiros registros confiáveis, com descrições detalhadas sobre sua prática. A primeira grande questão que se colocava aos estudiosos era: a Capoeira surgiu na África ou no Brasil? Atualmente, considera-se esta questão como já resolvida. Tem-se hoje a convicção de que a capoeira é, de fato, uma manifestação cultural genuinamente brasileira. Tudo leva a crer que ela seja uma invenção dos africanos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros. É brasileira, mas de raiz cultural africana.
Uma das hipóteses que são levantadas sobre o surgimento da capoeira , ainda em solo Africano diz que na época do acasalamento das zebras, os machos, a fim de ganharem a atenção das fêmeas, travam violento combate.
Daí os jovens guerreiros da aldeia dos MUCOPES, localizada no sul de Angola, passaram a imitar alguns passos desse ritual, que denominaram de N'GOLO. Os habitantes dessa aldeia realizavam uma vez por ano uma grande festa com o nome de EFUNDULA, ocasião em que as meninas que já tinham atingido a puberdade e, estando assim prontas para o casamento, teriam como marido aquele guerreiro que tivesse a melhor performance na prática do N'GOLO"
Por falta de acesso a registros sobre o lendário N'GOLO, em nossa academia usamos despretenciosamente o nosso Jogo de Samongo para tentar retratar esse suposto ritual ancestral da capoeira.
Ao contrário da América Espanhola, o Brasil do século XVI não apresentou grandes riquezas sob a forma de metais preciosos, que só foram descobertos no final do século XVII. Na falta dos metais, foi o açúcar que tornou viável, em termos econômicos, os primeiros passos da colonização. Se a terra era um fator abundante, o mesmo não acontecia com a mão-de-obra .A primeira solução para o problema da mão-de-obra foi a escravização dos indígenas, que apresentou muitas dificuldades. Em virtude do tipo de civilização em que se encontrava, o índio brasileiro, ligado à caça, à pesca e à coleta, tinha dificuldades de adaptação ao trabalho agrícola escravo. Além disso, a Igreja Católica, desde o início da colonização, desenvolveu uma política de cristianização, proteção e controle dos indígenas, lutando contra sua escravização pelos colonos.
O problema da mão-de-obra, no Brasil e na América em geral como dissemos anteriormente, deu ensejo ao desenvolvimento de um dos mais lucrativos negócios da história, que foi a escravidão negra.
Negros aprisionados na África passaram a ser mercadoria importante para a atividade comercial e a servir como força produtora, primeiro na própria Europa, nas ilhas do Atlântico e depois na América colonial.
Os escravos negros começaram a ser desembarcados no Brasil por volta de 1548 e,nos três séculos seguintes, seriam predominantemente do tronco lingüístico banto, do qual faz parte a língua quimbundo. Esse grupo englobava angolas, benguelas, moçambiques, cabindas e congos. Eram povos de pequenos reinos, com um razoável domínio de técnicas agrícolas; possuíam uma visão muito plástica e imaginosa da vida, e demonstraram ter grande capacidade de adaptação cultural.
Para ter o africano como escravo, era necessário suprimir-lhe a cultura - a alma - transformando-o em bicho ou coisa. Suprimiam-lhe o nome tribal, impondo-lhe outro, português; proibiam-lhe a religião ancestral, forçando-o a aceitar a de Cristo. Os escravos negros apanhavam durante a longa viagem até o litoral; apanhavam no depósito mantido pelos agentes; apanhavam no convés do navio, durante a travessia do Atlântico (que durava cerca de três meses); apanhavam no mercado, à espera dos fazendeiros compradores; e continuavam apanhando durante toda a existência de escravos.
Joel Rufino dos Santos em seu livro entitulado - Zumbi diz "Não lhe batiam por maldade, embora isso também ocorresse. A finalidade era esvaziá-lo da parte propriamente humana que todos os homens possuem - e são homens propriamente porque a possuem. Assim coisificado, o negro africano estava pronto para ser escravo.
Século XVII : Ocorrem os primeiros movimentos escravos de fuga e rebeldia. Citam-se (sem muito rigor) relatos sobre as campanhas contra o quilombo de Palmares, na Serra da Barriga (ao sul de Pernambuco, no atual Estado de Alagoas), em que se fazia referência ao modo muito peculiar de lutar dos negros aquilombados, nos confrontos corpo-a-corpo com os invasores brancos.
1712: Pela primeira vez é registrado o vocábulo capoeira, no Vocabulário Português e Latino, de Rafael Bluteau, mas os significados do termo não se referem à luta. Não há praticamente registros sobre a capoeira no século XVIII. É comum imaginar-se a capoeira nascendo e crescendo no ambiente rural, mas talvez tenha sido nas cidades, onde circulava livremente um grande número de libertos e "negros de ganho" (escravos que por conta própria exerciam alguma atividade e que ao fim do dia tinham de entregar uma quantia prefixada a seu proprietário.
Em 1830: O alemão Rugendas, no livro Viagem pitoresca e história do Brasil, retrata pela primeira vez o jogo de capoeira, em sua gravura Jogar capoeira ou dança de guerra. Eis as palavras de Rugendas: "Os negros têm ainda um outro folguedo guerreiro, muito mais violento, a capoeira: dois campeões se precipitam um contra o outro, procurando dar com a cabeça no peito do adversário que desejam derrubar. Evita-se o ataque com saltos de lado e paradas igualmente hábeis; mas, lançando-se um contra o outro mais ou menos como bodes, acontece-lhes chocarem fortemente cabeça contra cabeça, o que faz com que a brincadeira não raro degenere em briga e que as facas entrem em jogo, ensangüentando-a."
Este cenário nos inspira hoje para o que praticamos na academia de Jogo de São Bento, imaginando como os feitores e capitães do mato atuavam e nossos insólitos irmãos sofriam com seus maus tratos. E pensando nesse modo peculiar de se defender e lutar que foram desenvolvendo.
1809: Um ano após a chegada de D. João VI, criou-se a Secretaria de Polícia e foi organizada a Guarda Real de Polícia, sendo nomeado para sua chefia o major Nunes Vidigal, perseguidor implacável dos candomblés, das rodas de samba e especialmente dos capoeiras, "para quem reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de Ceia dos Camarões".
1821: Em carta dirigida ao ministro da Guerra, a Comissão Militar do Rio de Janeiro reclamava dos "negros capoeiras, presos pelas escolas militares, em desordens", e reconhecia "a necessidade urgente de serem eles castigados pública e peremptoriamente...". Eram as Maltas de Capoeira, famosas no Rio de Janeiro, que se espalhavam por diversos bairros e freguesias da cidade, cada malta comandava uma região e não admitia a invasão de seu território. Os integrantes das maltas possuíam um modo característico de vestirem-se: trajavam roupas brancas, calça pantalona com boca de sino, camisa ou terno de linho com sapato de bico fino, no pescoço quase sempre usavam um lenço de seda que funcionava como proteção de navalhadas, na cabeça um chapéu e nas mãos, uma faca, navalha ou bengala para qualquer imprevisto.
Esses capoeiristas costumavam viver na boemia junto com as prostitutas, vagabundos, aristocratas, imigrantes e intelectuais. Gostavam de festas, comícios e lugares com aglomerado de pessoas para poder saquear, roubar ou arrumar confusão com as maltas rivais. Quase sempre, quando a polícia chegava, conseguiam escapar, mas às vezes não tinha jeito e travavam combates deixando os policias estirados no chão. As maltas de capoeira eram algo que atormentava a população carioca, principalmente as autoridades que queriam de qualquer maneira exterminá-las. Haviam várias maltas no Rio de Janeiro e cada uma comandava uma região, mas dentre todas, tiveram duas que mais se destacaram: os Guaiamuns e Nagoas.
Os Nagoas atuavam na periferia, chamada de Cidade Velha. Eram ligados aos Monarquistas do Partido Conservador; e tinham uma tradição escrava e africana. Os chapéus era sinais que diferenciavam os integrantes das duas grandes maltas. Os Nagoas usavam um chapéu com uma cinta de cor branca sobre o vermelho e as abas para frente e para baixo.
Os Guaiamuns atuavam na região central, chamada Cidade Nova. Eram ligados aos Republicanos do Partido Liberal; tinham uma tradição mestiça, absorveram muitos imigrantes, crioulos, homens livres e intelectuais. Usavam um chapéu com uma cinta de cor vermelha sobre a branca e as abas para frente e para cima. Geralmente, os conflitos entre as maltas aconteciam em dias de festa, quando uma malta invadia o território da outra. Muitas vezes os conflitos aconteciam individualmente, ao invés de em grupo; um dos componentes da malta travava combate com um componente de outra malta, enquanto o restante ficava olhando, e independente do resultado ambos aplaudiam calorosamente.
Após a Proclamação da República (1889), foi criado o decreto 847 de 1890, intitulado "Dos vadios e capoeiras". Este decreto repreendia a capoeira e seus praticantes. Então, através da perseguição policial, pouco a pouco foram sendo encarcerados, exilados ou exterminados os chefes das maltas e estas foram perdendo suas forças e sendo desmanteladas .
Estes confrontos de Maltas de Capoeiras nos inspira para os treinamentos de defesa de facas, porretes e o famoso jogo de Navalhas.
Aula de Formados e Estagiários com o Mestre Carapau em 1981
Associação de Capoeira Angolinha
A primeira academia em Rudge Ramos, ficava na Av. ministro Oswaldo Aranha
Batizado em Porto Ferreira vemos o aluno Ouriço (hoje Mestre Ouriço) de calça escura, Mestre Carapau e Mestre Mello
Carapau e Mestre Mello no sítio da família em Porto Ferreira, em 1975 ano em que fundou o Grupo.
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